Lá estava eu, dirigindo no trânsito de Campina Grande. Ruas estreitas, motoristas apressados buzinando sem necessidade, motoqueiros ultrapassando pela direita (também já fiz isso, mas agora ando sobre quatro rodas). Guiando na companhia de Chico Buarque, meus polegares batem no volante tentando acompanhar o ritmo do Samba de Orly. Balbucio pequenos versos, sem me preocupar com afinação ou entonação. Sinal fechado. Paro atrás de um carro branco, automaticamente meus olhos lêem a filosofia de para-choque de caminhão escrita no vidro traseiro do Chevrolet: “não sinta inveja de mim, não sou rico, apenas trabalho.” A poesia musicada foge da minha cabeça, minha concentração é total na sabedoria da frase à minha frente.
Já havia lido a máxima em outros lugares, pregada nas paredes de muitas salas de estar, colocada sobre cofres em bodegas, escrita com pincel atômico nas portas dos banheiros públicos. Mas, desta vez foi diferente, a sentença me fez perder a atenção no tráfego ou em qualquer outra coisa, incluindo Chico Buarque que ficou falando sozinho, coitado.
A oração não é um lema contra a inveja, nem mesmo a condena em seus muitos aspectos, afinal ela não dizia: não sinta inveja de mim ou simplesmente: não sinta inveja, podendo até ser acrescida de: isso é feio, ofende. Em sua profundidade a frase não censura o pecado capital, repudia, apenas, que o sentimento seja contra um cidadão desafortunado. Meditei. Cheguei à conclusão de que, tomando por base o texto, alguém pode ser invejoso, desde que a pessoa foco desse desejo “pecaminoso” seja abastado financeiramente, não somente um mero e esforçado trabalhador. Isto é, o dito poderia ser re-escrito mais ou menos assim: De mim você não pode sentir inveja, não sou rico. Mas do Sílvio Santos pode.
Sou metido a escritor, gostaria que meus rabiscos (mesmo tortos) causassem alguma reflexão, positiva ou não, nos leitores. Acho que fiquei com inveja do autor da frase.
Já havia lido a máxima em outros lugares, pregada nas paredes de muitas salas de estar, colocada sobre cofres em bodegas, escrita com pincel atômico nas portas dos banheiros públicos. Mas, desta vez foi diferente, a sentença me fez perder a atenção no tráfego ou em qualquer outra coisa, incluindo Chico Buarque que ficou falando sozinho, coitado.
A oração não é um lema contra a inveja, nem mesmo a condena em seus muitos aspectos, afinal ela não dizia: não sinta inveja de mim ou simplesmente: não sinta inveja, podendo até ser acrescida de: isso é feio, ofende. Em sua profundidade a frase não censura o pecado capital, repudia, apenas, que o sentimento seja contra um cidadão desafortunado. Meditei. Cheguei à conclusão de que, tomando por base o texto, alguém pode ser invejoso, desde que a pessoa foco desse desejo “pecaminoso” seja abastado financeiramente, não somente um mero e esforçado trabalhador. Isto é, o dito poderia ser re-escrito mais ou menos assim: De mim você não pode sentir inveja, não sou rico. Mas do Sílvio Santos pode.
Sou metido a escritor, gostaria que meus rabiscos (mesmo tortos) causassem alguma reflexão, positiva ou não, nos leitores. Acho que fiquei com inveja do autor da frase.