domingo, 15 de julho de 2012

Revirando o baú

Sempre gostei de fotografia, mesmo quando não existiam as câmeras digitais, cheias de recursos, nas quais podemos tirar várias e várias fotos sem nos preocupar com o fim do filme. Eu já dava meus clicks na época das câmeras analógicas, daquelas em que comprávamos os rolos de filme com, no máximo, 36 poses. Precisávamos escolher bem o que  fotografar, não tínhamos o direito de registrar um mesmo motivo inúmeras vezes e posteriormente escolhermos a melhor na tela do computador, para poder divulgar, hoje, na internet, ontem, apenas nos álbuns que rodavam de mão em mão. Sem falar no suspense que havia quando chegávamos a uma loja de fotografia, entregávamos o filme e ficávamos na expectativa de quais poses seriam revelados com êxito. Muitas vezes as que mais queríamos simplesmente queimavam, tremiam, ficavam escuras, sei lá, não prestavam. Gosto da tecnologia digital, ela me traz comodidade, embora, não nego, sinta saudade do charme da analógica. Mas, essa publicação nasceu quando eu revirava umas fotos que fiz com minha antiga câmera Yashica (automática, era muita tecnologia pra época) e encontrei algumas imagens de minha cidade, Jatobá (São José de Piranhas), que registram paisagens urbanas que não existem mais (ou foram modificadas). Assim como a digitalização tirou de moda os antigos filmes fotográficos, as cidades vão sendo modificadas, adaptadas ao novo mundo... Ainda bem que existem, e sempre existirão, as fotografias!

A primeira foto é da residência de Dona Neves (Mãe Neve, como era mais conhecida), a casa ficava no centro da cidade, de frente à Praça Getúlio Vargas.

A casa foi derrubada. Eu gastei algumas poses de meu filme para registrar os escombros do casarão:

A praça Getúlio Vargas (hoje, Praça Nelson Lacerda, gosto mais deste nome, já que se trata de uma homenagem a um piranhense), também foi fotografada, com seus tradicionais bancos em alvenaria. Talvez a parte mais interessante desta foto seja a sombra no calçamento. Pelo horário, a réstia da casa de Dona Neves quase dominava a rua que a separava da praça.

O Jatobá Club, ponto de encontro da sociedade de São José, hoje está totalmente abandonado, entregue ao descaso e à ação do tempo, que não perdoa. Paixões, amores, romances de uma noite, alegrias, risos e suores estão sendo soterrados por um prédio condenado. Entretanto, a fotografia abaixo foi feita na época em que as tertúlias e os shows do JC eram a maior atração da Princesa dos Montes.

A casa de Joaquim Ribeiro foi, pelo menos até onde sei, a primeira residência com sobrado da cidade. Imponente, ficava no centro da cidade, exibindo-se para os visitantes e para os piranhenses.


A cidade cresce, o trânsito começa a complicar. Mas quem não lembra do Terminal Rodoviário no centro de Jatobá? Os ônibus da Transparaíba ou da Gontijo apertando-se para estacionar. Estes ônibus foram atrações e até marcavam o horário das meninas irem pra casa: "Quando o ônibus passar é pra vir embora" diziam as mães preocupadas com as moças.


Quando fiz estas fotos não imaginei que a cidade podesse mudar tão rapidamente. O fórum, por exemplo, hoje ocupa uma bonita edificação nas margens da PB 400. Todavia, há alguns anos, ficava ali ao lado da Telpa (a foto do posto telefônico queimou).


As fotos registram momentos únicos, é uma pausa no calendário, como se a areia parasse de cair na ampulheta. A máquina do tempo já foi inventada, ela se chama CÂMERA FOTOGRÁFICA.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Ubaldino, o médico e o caroço.

Ubaldino Filho, mais conhecido como Júnior (embora não conste em seu nome) é um cabra que conheci em Campina Grande, torcedor ferrenho do Treze e do Vasco da Gama, servidor federal, filho de médico, não teve coragem de fazer medicina, tem horror a doenças e morre de medo de adoecer. Sempre que escuta uma história que alguém contraiu uma enfermidade, logo pensa que também pode estar contaminado; se uma pessoa reclama de uma dor de cabeça, ele já corre pra tomar um analgésico; se por acaso, alguém conta uma história sobre infarto, Ubaldino prontamente leva a mão ao peito e fica ofegante; vive na internet procurando remédio para calvície, segundo ele: existe e dá resultado. Não pode passar por perto de um espelho que vai verificar sua testa que não para de crescer; a música que, segundo ele, o define biograficamente é “O pulso” dos Titãs. Certo dia, um colega de trabalho queixou-se que não estava enxergando muito bem, de imediato Júnior marcou consulta no oftalmologista e na semana seguinte chegou usando óculos, “miopia”, disse ele. É um cara que aproveita ao máximo o plano de saúde, inclusive, corre o boato de que a concessionária está analisando a possibilidade de colocar um valor exclusivo para ele, porque a empresa está no prejuízo. Recentemente foi tornado público o drama vivido pelo ator Reynaldo Gianecchini, diagnosticado com um câncer linfático. Júnior viu a reportagem na TV, mas não teve condições de assistir até o final da matéria, ficou tonto, teve ânsia de vômito e tremedeira nas pernas. No outro dia, chegou ao trabalho de olhos vermelhos, abatido, ombros caídos, olhar perdido. Silvan foi o primeiro que percebeu que o amigo não estava muito bem, perguntou o que estava havendo, o quase moribundo respondeu, com a mão no pescoço, que descobrira o caroço em sua garganta, temia que fosse um tumor maligno, Silvan, o homem que mais teve profissões no Brasil, logo, também deve ter sido currandeiro, disse que não era nada, era só um carocinho à toa.

Isto não satisfez Ubaldino, naquele mesmo dia marcou consulta com um famoso médico que trata de problemas de pescoço. Ao chegar ao consultório, Júnior estava mais branco do que o de costume, temia o diagnóstico. Sentou-se em uma das cadeiras da sala de espera, folheou revistas, mas não leu nada, não tinha paciência para isso. Por fim, chegou sua vez de entrar para a consulta. O doutor perguntou qual o problema, Ubaldino explicou que havia percebido a existência de um caroço indesejável no lado esquerdo de seu pescoço. O médico fez os exames necessários e, diante dos resultados, constatou: “Não é nada demais, não há com que se preocupar, fique tranquilo.” Júnior, não muito convencido, foi para casa, mas alguma coisa lhe dizia que o profissional havia se enganado. Em casa, deteve-se horas em frente ao espelho, não olhando a careca futura, mas o pescoço, procurava ver se o caroço crescera, se estava vermelho (mesmo que por fora da pele), respirava profundamente testando se o “tumor” atrapalhava sua respiração. Não se conteve, no dia seguinte voltou novamente ao consultório. Disse que não estava convencido de que não tinha nada grave, que poderia ser que o médico tivesse se enganado ou mesmo não estivesse querendo dizer a verdade. Implorou para que o doutor fizesse novos exames, talvez em outros laboratórios. O médico tirou os óculos, cruzou os braços e perguntou:

- Qual a sua formação Ubaldino?

- Engenharia Civil. – disse Júnior todo orgulhoso.

- Ah, quer dizer que o médico aqui sou eu. – concluiu o doutor.