domingo, 11 de março de 2012

Wédson, um torcedor



Com exceção dos jogos do Esporte Clube Municipal Piranhense, quando lotávamos o Estádio Marconi Cruz de Lacerda (naquela época lá ainda havia muro) e em coro de “sou, sou piranhense, eu sou...” perturbávamos os times adversários com nossos gritos, sempre acompanhados pela harmonia da batucada do Alto da Boa Vista, nunca fui muito fã de assistir a partidas de futebol. Mas, morando em Campina Grande, torcendo pelo Treze Futebol Clube e pelo Vasco da Gama, resolvi ir ao estádio “O amigão”, na companhia de Painho, Newton Sobral, Dr. Adriano e Wédson, assistir ao embate entre o Time da Cruz de Malta e o Campinense, jogo válido pela 2ª divisão do campeonato brasileiro. Chegamos cedo, nos juntamos à torcida vascaína, pegamos uma daquelas filas que nunca andam (lei de Murphy), mas conseguimos chegar à arquibancada a tempo de ver o time carioca entrar em campo.
O jogo foi bom, por vezes, o Vasco no ataque, em outras, o Campinense na defesa, e por aí foi. Entretanto, o ponto alto da partida, não foi um gol, um drible, uma jogada primorosa... a maior atração do jogo veio da torcida. Wédson, em pé ao meu lado, xingava o juiz, brigava sozinho, sofria, ficava vermelho (se torcesse pelo Internacional de Porto Alegre, já estaria caracterizado), orientava a equipe, ficava rouco, gritava “ai meu Deus!”, fazia cara de choro, ria sozinho... tive medo dele enfartar. Antigamente, o torcedor ia para o estádio munido de um radinho de pilha, para acompanhar a narração e os comentários transmitidos pela emissora. Acontece que o mundo evoluiu e Wédson é um homem antenado com as novas tecnologias, ele, de minuto em minuto, usa o celular (desses modernos cheios de miquitrifes) ligando para o irmão, Welson, que, na cidade de Conceição, assiste ao jogo pela TV. Wédson pergunta se foi falta, se houve impedimento, assuntos de futebol. Eu praticamente nem olho mais pro campo, assistir Wédson é muito melhor. Em dado momento, toca celular do artista principal desse espetáculo, é Welson desesperado, grita tanto, que quase consigo ouvir seu clamor. Conta que faltou energia em Conceição. Neste momento, Wédson, compadecido com o irmão vascaíno que teve tolhido seu direito de assistir à partida, começa a narrar o jogo. Eu, que já nem reparava no gramado, fico ainda mais vidrado naquela mistura de torcedor, técnico, comentarista e narrador esportivo. Ele diz:
- Welson, o Vasco tá com a bola. Vai... vai porra... Eita, um fi de rapariga tomou a bola. Falta, falta... ladrão, deu a falta não. Agora vai, eita... eita, eita... Bicho ruim! O jogador tá com a bola aqui perto de nós. Pega... pega... Chutou lá pro outro lado. Ave Maria, até eu fazia esse. Bora carai!
Sinceramente, não lembro qual foi o placar final de Vasco e Campinense, mas Wédson foi o grande artilheiro da partida.

Vi e fotografei: reflexo