domingo, 18 de abril de 2010

Enlace à antiga



Antigamente a mulher não era vista como uma pessoa, mas apenas como um mero objeto, uma máquina pra lavar, passar, cozinhar... Não havia a figura da mulher companheira que dividia e compartilhava as alegrias e atribulações do marido. A mulher não trabalhava, não estudava... Sentir prazer? Isto é que não existia mesmo. Mas graças a Deus, e às deusas humanas, esta realidade foi modificada.
Foi naquele tempo que se deu o casamento de João de Zé de Nêgo com Chica de Mané Macambira. Mané e Zé eram vizinhos de terra no sítio Caboclo Brabo, mais ou menos perto de onde Judas perdeu as botas. Trabalhavam na mesma lida rural, brocar, limpar, plantar, colher, criar umas duas ou três magras cabeças de gado, aguentar o sol escaldante do Sertão, mas sem baixar a cabeça, sempre com o sorriso nos lábios agradecendo a Deus pela dádiva de poder ter uma terra própria para trabalhar. Zé de Nêgo casado com Mundinha de Bastião das Faca, nome dado pela sua profissão de fazedor de peixeiras, conta-se, as mais amoladas da região. Casaram-se de encomenda, acordo feito entre os pais, compadres, para que os filhos unissem as famílias. Da mesma forma, Mané Macambira havia trocado alianças com Zefinha de Zé da Bodega, o qual, comentam as más línguas, não era lá muito macho, tinha um andar meio torto, umas quebradas de munheca, mas mesmo com esses trejeitos, casou e foi pai de família. É verdade que cada filho tinha uma aparência diferente, nenhum parecia com o pai, a esposa sempre encontrava um parente para os infantes terem uns traços. Bem, isso não é de nossa conta. O fato é que o casório de Mané também foi traçado pelas famílias amigas.
Então, nada mais normal que Zé de Nêgo e Mané Macambira, amigos e vizinhos, combinassem o enlace matrimonial entre seus filhos. E assim se deu, João e Chica contraíram núpcias, juraram amor e fidelidade até que a morte viesse a separá-los, aquela coisa toda: na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, etc, etc. Contudo, entre os noivos, amor era uma palavra que não existia, mas e daí? Quem foi que disse que para casar era preciso amar? Bastava que os pais fossem amigos, compadres, isto era mais do que suficiente.
Os cônjuges se respeitavam mutuamente, cada um era sabedor de suas funções e obrigações. O Homem trabalhava na roça para trazer o sustento para casa. A mulher cozinhava, lavava, e, é claro, servia de objeto para proporcionar prazer ao marido. Ela não tinha o direito à satisfação sexual, simplesmente quando o marido estava com vontade de descarregar suas energias lúbricas, procurava pela devotada mulher que se deitava, levantava o vestido, abria as pernas e esperava que o esposo se saciasse.
Certo dia João chegou em casa mais tarde que o de costume, aparentemente muito cansado, tinha sido um dia difícil, colocou fogo numa broca, as labaredas ultrapassaram os aceiros, atingiu um campo de pasto vizinho, foi uma correria, uma luta contra um inimigo quente, forte. Todavia depois de muito esforço as chamas foram controladas. João jantou, e foi direto se deitar, nem mesmo ouviu o seu programa preferido no rádio, como fazia em sua rotina diária.
Chica viu aquela cena, resolveu perguntar se naquela noite haveria mais algum trabalho além de lavar a louça do jantar.
- O senhor meu marido vai me usar hoje? – quis saber ela.
- Não. – respondeu ele sem nem mesmo olhar para esposa.
- Oba! Então eu vou lavar só os pé.
Júlio César Rolim

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Você veja

Oh, minha amada loura
És por demais formosa
Minha musa inspiradora
És também a mais gostosa

Tu alivias meu cansaço
Amenizas minha dor
Tendo-te nos braços
Apreciando teu sabor

Quando te vejo aproximando
De branco bem vestida
Meu coração fica saltando
Alegras minha vida

És deveras estonteante
Doce loura amada
Boa a todo instante

E melhor sendo gelada.

Júlio César Rolim

sábado, 3 de abril de 2010

Grama



Nas minhas viagens pelo mundo real, tive a oportunidade de me deparar com a tradicional advertência para não pisar na grama. O único problema era: que grama? A foto ao lado foi tirada em Brasília - DF, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães.
O retrato suscita a dúvida: não havia grama, ou mesmo capim, ou as pessoas simplesmente ignoraram o aviso, preferindo pegar um atalho, deixando a placa órfã de seu objetivo? A beleza verde deu lugar ao marron empoeirado, pelo simples fato de que é menos cansativo e mais rápido pisotear o gramado que dar uma pequena volta no canteiro.

Imenso




Certa vez, uma mãe estava na praia com seu filho de três anos. Os dois sentados à sombra, brincavam com a areia e contemplavam a beleza do Atlântico, que quebrava suas ondas no litoral paraibano (lindo como sempre). Em um momento poético a mãe diz à criança:

- Mamãe ama você do tamanho do mar.

O pequeno olha para a imensidão azul, vira para a mãe e, passando as mãos no rosto dela, fala:

- E eu amo você do tamanho de papai!