Antigamente a mulher não era vista como uma pessoa, mas apenas como um mero objeto, uma máquina pra lavar, passar, cozinhar... Não havia a figura da mulher companheira que dividia e compartilhava as alegrias e atribulações do marido. A mulher não trabalhava, não estudava... Sentir prazer? Isto é que não existia mesmo. Mas graças a Deus, e às deusas humanas, esta realidade foi modificada.
Foi naquele tempo que se deu o casamento de João de Zé de Nêgo com Chica de Mané Macambira. Mané e Zé eram vizinhos de terra no sítio Caboclo Brabo, mais ou menos perto de onde Judas perdeu as botas. Trabalhavam na mesma lida rural, brocar, limpar, plantar, colher, criar umas duas ou três magras cabeças de gado, aguentar o sol escaldante do Sertão, mas sem baixar a cabeça, sempre com o sorriso nos lábios agradecendo a Deus pela dádiva de poder ter uma terra própria para trabalhar. Zé de Nêgo casado com Mundinha de Bastião das Faca, nome dado pela sua profissão de fazedor de peixeiras, conta-se, as mais amoladas da região. Casaram-se de encomenda, acordo feito entre os pais, compadres, para que os filhos unissem as famílias. Da mesma forma, Mané Macambira havia trocado alianças com Zefinha de Zé da Bodega, o qual, comentam as más línguas, não era lá muito macho, tinha um andar meio torto, umas quebradas de munheca, mas mesmo com esses trejeitos, casou e foi pai de família. É verdade que cada filho tinha uma aparência diferente, nenhum parecia com o pai, a esposa sempre encontrava um parente para os infantes terem uns traços. Bem, isso não é de nossa conta. O fato é que o casório de Mané também foi traçado pelas famílias amigas.
Então, nada mais normal que Zé de Nêgo e Mané Macambira, amigos e vizinhos, combinassem o enlace matrimonial entre seus filhos. E assim se deu, João e Chica contraíram núpcias, juraram amor e fidelidade até que a morte viesse a separá-los, aquela coisa toda: na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, etc, etc. Contudo, entre os noivos, amor era uma palavra que não existia, mas e daí? Quem foi que disse que para casar era preciso amar? Bastava que os pais fossem amigos, compadres, isto era mais do que suficiente.
Os cônjuges se respeitavam mutuamente, cada um era sabedor de suas funções e obrigações. O Homem trabalhava na roça para trazer o sustento para casa. A mulher cozinhava, lavava, e, é claro, servia de objeto para proporcionar prazer ao marido. Ela não tinha o direito à satisfação sexual, simplesmente quando o marido estava com vontade de descarregar suas energias lúbricas, procurava pela devotada mulher que se deitava, levantava o vestido, abria as pernas e esperava que o esposo se saciasse.
Certo dia João chegou em casa mais tarde que o de costume, aparentemente muito cansado, tinha sido um dia difícil, colocou fogo numa broca, as labaredas ultrapassaram os aceiros, atingiu um campo de pasto vizinho, foi uma correria, uma luta contra um inimigo quente, forte. Todavia depois de muito esforço as chamas foram controladas. João jantou, e foi direto se deitar, nem mesmo ouviu o seu programa preferido no rádio, como fazia em sua rotina diária.
Chica viu aquela cena, resolveu perguntar se naquela noite haveria mais algum trabalho além de lavar a louça do jantar.
- O senhor meu marido vai me usar hoje? – quis saber ela.
- Não. – respondeu ele sem nem mesmo olhar para esposa.
- Oba! Então eu vou lavar só os pé.
Foi naquele tempo que se deu o casamento de João de Zé de Nêgo com Chica de Mané Macambira. Mané e Zé eram vizinhos de terra no sítio Caboclo Brabo, mais ou menos perto de onde Judas perdeu as botas. Trabalhavam na mesma lida rural, brocar, limpar, plantar, colher, criar umas duas ou três magras cabeças de gado, aguentar o sol escaldante do Sertão, mas sem baixar a cabeça, sempre com o sorriso nos lábios agradecendo a Deus pela dádiva de poder ter uma terra própria para trabalhar. Zé de Nêgo casado com Mundinha de Bastião das Faca, nome dado pela sua profissão de fazedor de peixeiras, conta-se, as mais amoladas da região. Casaram-se de encomenda, acordo feito entre os pais, compadres, para que os filhos unissem as famílias. Da mesma forma, Mané Macambira havia trocado alianças com Zefinha de Zé da Bodega, o qual, comentam as más línguas, não era lá muito macho, tinha um andar meio torto, umas quebradas de munheca, mas mesmo com esses trejeitos, casou e foi pai de família. É verdade que cada filho tinha uma aparência diferente, nenhum parecia com o pai, a esposa sempre encontrava um parente para os infantes terem uns traços. Bem, isso não é de nossa conta. O fato é que o casório de Mané também foi traçado pelas famílias amigas.
Então, nada mais normal que Zé de Nêgo e Mané Macambira, amigos e vizinhos, combinassem o enlace matrimonial entre seus filhos. E assim se deu, João e Chica contraíram núpcias, juraram amor e fidelidade até que a morte viesse a separá-los, aquela coisa toda: na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, etc, etc. Contudo, entre os noivos, amor era uma palavra que não existia, mas e daí? Quem foi que disse que para casar era preciso amar? Bastava que os pais fossem amigos, compadres, isto era mais do que suficiente.
Os cônjuges se respeitavam mutuamente, cada um era sabedor de suas funções e obrigações. O Homem trabalhava na roça para trazer o sustento para casa. A mulher cozinhava, lavava, e, é claro, servia de objeto para proporcionar prazer ao marido. Ela não tinha o direito à satisfação sexual, simplesmente quando o marido estava com vontade de descarregar suas energias lúbricas, procurava pela devotada mulher que se deitava, levantava o vestido, abria as pernas e esperava que o esposo se saciasse.
Certo dia João chegou em casa mais tarde que o de costume, aparentemente muito cansado, tinha sido um dia difícil, colocou fogo numa broca, as labaredas ultrapassaram os aceiros, atingiu um campo de pasto vizinho, foi uma correria, uma luta contra um inimigo quente, forte. Todavia depois de muito esforço as chamas foram controladas. João jantou, e foi direto se deitar, nem mesmo ouviu o seu programa preferido no rádio, como fazia em sua rotina diária.
Chica viu aquela cena, resolveu perguntar se naquela noite haveria mais algum trabalho além de lavar a louça do jantar.
- O senhor meu marido vai me usar hoje? – quis saber ela.
- Não. – respondeu ele sem nem mesmo olhar para esposa.
- Oba! Então eu vou lavar só os pé.
Júlio César Rolim