Tenho certeza de que se tentasse ganhar a vida no mundo empresarial iria à falência mais ligeiro que carreira de gente com dor de barriga em busca de banheiro. Não tenho tino pros negócios, não sei vender e, às vezes, nem comprar. Mesmo assim, admiro aquelas pessoas que conseguem sucesso no comércio. Conheço sujeitos que são capazes de vender gelo na Sibéria, carne de vaca na Índia e camisa do Palmeiras dentro da quadra da Gaviões da Fiel.
Como não sou um bom negociador, nutro a esperança de ficar rico ganhando na loteria, nem penso na Mega Sena acumulada, é dinheiro demais, não saberia o que fazer com ele. Um dia desses, lá estava eu na fila da casa lotérica aguardando minha vez para fazer uma fezinha. Detesto filas (existe alguém que goste?). Na minha impaciência, bato com os dedos na face, agito o calcanhar enquanto me apoio sobre o peito do pé, observo o movimento no calçadão. Pessoas num constante vai-e-vem. Vendedores de DVD’s piratas, garantindo que seus produtos são originais. Um apóstolo de Cristo que, com um megafone em punho, prega a conversão dos pecadores, anuncia o fim do mundo e a morte dos ímpios. Um palhaço sem graça fazendo propaganda de uma ótica. Muitos ambulantes, um deles, com várias sombrinhas penduradas no braço e uma aberta sobre sua cabeça fazendo seu comercial:
- Olha a sombrinha! Não fique no sol, se proteja contra o câncer de pele. Olha a sombrinha!
Meus olhos se detêm naquela figura. A fila parece não andar, ao contrário do vendedor de sombrinhas, que se movimenta de um lado pro outro, sobe num canteiro, aborda transeuntes, vende uma toda estampada a uma senhora que, com muita elegância, abre o objeto e sai desfilando.
Meus olhos se detêm naquela figura. A fila parece não andar, ao contrário do vendedor de sombrinhas, que se movimenta de um lado pro outro, sobe num canteiro, aborda transeuntes, vende uma toda estampada a uma senhora que, com muita elegância, abre o objeto e sai desfilando.
Olho pro relógio, estou atrasado, o cara do caixa conta dinheiro, a pregação do apóstolo começa a me incomodar. De repente, um vento frio, o céu fecha, nuvens carregadas aparecem do nada, a voz no megafone avisa que aquilo é apenas o primeiro sinal. Cai um toró. As pessoas correm em busca de abrigo, algumas estudantes colocam os cadernos protegendo as cabeças, é melhor molhar os conteúdos estudados na escola do que estragar a pranchinha dos cabelos. Olho pro ambulante das sombrinhas, penso alto “e agora?”. O camelô, com um grande sorriso nos lábios, continua seu ofício:
- Olha o guarda-chuva...