Noite passada encontrei um camundongo dentro do meu apartamento, eu não o convidei pra entrar, logo, sua presença não era bem vinda. Corri atrás do infeliz, ele se escondia atrás de um móvel, eu afastava o anteparo; ele corria pra outro canto, eu escorregava num tapete. O rato era mais rápido que o Ligeirinho, mais esperto que o Mickey. Compreendi porque o pobre Tom nunca conseguiu vencer o Jerry. Desisti daquela batalha, mas declarei guerra ao pequeno roedor.
No outro dia, bem cedo, fui comprar meu arsenal raticida. Entrei numa farmácia veterinária grande, “aqui deve ter o que preciso” pensei, já traçando minhas estratégias. Perguntei se eles tinham veneno de rato, o vendedor por trás do balcão revirou umas prateleiras e voltou segurando um saquinho cheio de coisinhas vermelhas.
- Você espalha isso pela casa, nos cantos por onde ele passa. É tiro e queda, ele come e poff, morre. – Disse entregando a embalagem.
- Ele morre na hora? – Eu quis saber, afinal não sou especialista em rato.
- Na hora, na hora, não. Mas morre.
- Oxente, aí ele vai andar pela casa e como vou saber onde ele morreu?
- Você sente o cheiro. Rato morto fede pra caramba! – explicou o vendedor.
Não gostei da idéia de um cadáver em putrefação escondido embaixo da cama ou dentro do armário. Senti saudade do meu gato, quando eu era criança tive um, um vira-lata. O bichano era bom de rato, não escapava um. Só que agora pra eu comprar um gato, esperar que ele cresça pra poder comer o meu inimigo não seria uma solução muito interessante. Radicalizei:
- Você tem ratoeira?
- Tem não, talvez ali na frente. Mas leve o veneno, tem um cheirinho de queijo.
Comprei o veneno, mas não desisti da ratoeira. Fui à outra loja decidido a encontrar a armadilha letal. Outro balcão, mais um vendedor. Refiz a pergunta. Um cara que estava do lado, devia ser o dono do estabelecimento, disse:
- Cola de rato. Tem sim.
Nunca tinha ouvido falar nisso, quis saber como funcionava. O cara trouxe o produto e abriu para que eu visse. Empolgado que nem vendedor de algodão-doce em parque de diversões, foi explicando:
- Olha só, são duas partes, você abre e coloca nos lugares por onde o animal passa, ele não enxerga bem, pisa nessa cola aqui e fica preso. É uma maravilha!
- A cola é tóxica, e assim mata o rato? É um tipo especial de ácido que vai corroê-lo começando pelas patas, subindo até a cabeça? – perguntei demonstrando minha total ignorância frente àquela tecnologia.
- Não, nada tóxico. É uma ratoeira ecologicamente correta, o rato não morre, fica somente preso.
- E depois o que faço com o roedor, vou criar como um animal de estimação? – eu quis saber.
- Não. Aí você mata o bicho.
- E não seria mais fácil se a própria ratoeira já matasse?
- É como eu disse, a onda agora é o ecologicamente correto.
- Tá. Você não tem aquela que pega no pescoço do rato e elimina o mal de uma vez?
- Aquilo agora é proibido. Não se pode mais matar o bichinho. – Disse o vendedor emocionado.
Comprei a bendita cola. Mas não me dei por vencido, continuei a procurar uma ratoeira de verdade. Vi uma loja cheia de produtos artesanais: gaiolas, cordas, chaprões, tudo pendurado nas paredes e no portão de entrada de uma maneira nada organizada, havia produtos espalhados pela calçada, interrompendo o trânsito dos pedestres, uma verdadeira bangunça. Entrei convicto de que ali eu teria sucesso.
- Você tem ratoeira?
- Tem sim, entre aí. – disse um sujeito por trás de uma gaiola grande feita com palitos de coqueiros.
Ele me convidou a entrar, e dentro daquele pequeno labirinto de prisões animais me mostrou uma armadilha de arame, parecida com uma gaiola de passarinho. Falou que aquilo era uma esparrela eficaz. Funciona colocando iscas dentro, o rato fareja, segue o traiçoeiro olfato, cai num alçapão e fica preso.
- E morre? – indaguei já quase sem esperança.
- Pra quê morrer? Ele fica preso aqui na jaula. – disse o atendente batendo com os dedos nos arames.
- Certo. E depois eu faço o quê? Amarro numa árvore e cuido igual a um galo de campina?