sexta-feira, 13 de julho de 2012

Ubaldino, o médico e o caroço.

Ubaldino Filho, mais conhecido como Júnior (embora não conste em seu nome) é um cabra que conheci em Campina Grande, torcedor ferrenho do Treze e do Vasco da Gama, servidor federal, filho de médico, não teve coragem de fazer medicina, tem horror a doenças e morre de medo de adoecer. Sempre que escuta uma história que alguém contraiu uma enfermidade, logo pensa que também pode estar contaminado; se uma pessoa reclama de uma dor de cabeça, ele já corre pra tomar um analgésico; se por acaso, alguém conta uma história sobre infarto, Ubaldino prontamente leva a mão ao peito e fica ofegante; vive na internet procurando remédio para calvície, segundo ele: existe e dá resultado. Não pode passar por perto de um espelho que vai verificar sua testa que não para de crescer; a música que, segundo ele, o define biograficamente é “O pulso” dos Titãs. Certo dia, um colega de trabalho queixou-se que não estava enxergando muito bem, de imediato Júnior marcou consulta no oftalmologista e na semana seguinte chegou usando óculos, “miopia”, disse ele. É um cara que aproveita ao máximo o plano de saúde, inclusive, corre o boato de que a concessionária está analisando a possibilidade de colocar um valor exclusivo para ele, porque a empresa está no prejuízo. Recentemente foi tornado público o drama vivido pelo ator Reynaldo Gianecchini, diagnosticado com um câncer linfático. Júnior viu a reportagem na TV, mas não teve condições de assistir até o final da matéria, ficou tonto, teve ânsia de vômito e tremedeira nas pernas. No outro dia, chegou ao trabalho de olhos vermelhos, abatido, ombros caídos, olhar perdido. Silvan foi o primeiro que percebeu que o amigo não estava muito bem, perguntou o que estava havendo, o quase moribundo respondeu, com a mão no pescoço, que descobrira o caroço em sua garganta, temia que fosse um tumor maligno, Silvan, o homem que mais teve profissões no Brasil, logo, também deve ter sido currandeiro, disse que não era nada, era só um carocinho à toa.

Isto não satisfez Ubaldino, naquele mesmo dia marcou consulta com um famoso médico que trata de problemas de pescoço. Ao chegar ao consultório, Júnior estava mais branco do que o de costume, temia o diagnóstico. Sentou-se em uma das cadeiras da sala de espera, folheou revistas, mas não leu nada, não tinha paciência para isso. Por fim, chegou sua vez de entrar para a consulta. O doutor perguntou qual o problema, Ubaldino explicou que havia percebido a existência de um caroço indesejável no lado esquerdo de seu pescoço. O médico fez os exames necessários e, diante dos resultados, constatou: “Não é nada demais, não há com que se preocupar, fique tranquilo.” Júnior, não muito convencido, foi para casa, mas alguma coisa lhe dizia que o profissional havia se enganado. Em casa, deteve-se horas em frente ao espelho, não olhando a careca futura, mas o pescoço, procurava ver se o caroço crescera, se estava vermelho (mesmo que por fora da pele), respirava profundamente testando se o “tumor” atrapalhava sua respiração. Não se conteve, no dia seguinte voltou novamente ao consultório. Disse que não estava convencido de que não tinha nada grave, que poderia ser que o médico tivesse se enganado ou mesmo não estivesse querendo dizer a verdade. Implorou para que o doutor fizesse novos exames, talvez em outros laboratórios. O médico tirou os óculos, cruzou os braços e perguntou:

- Qual a sua formação Ubaldino?

- Engenharia Civil. – disse Júnior todo orgulhoso.

- Ah, quer dizer que o médico aqui sou eu. – concluiu o doutor.

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