domingo, 10 de junho de 2018

Ruptura


- Acabou, Larissa.
Me disse Celestino, entre goles. Fiquei muda, não consegui entender aquilo. Busquei em mim um motivo para o rompimento, procurei na luz sem brilho daqueles olhos azuis uma fagulha que clareasse meus pensamentos. Tentei enxergar em sua voz alguma tonalidade de mentira. Não encontrei, falava sério. Mas, não podia ser. Como poderia terminar nossa história? Ele permaneceu ali, olhar fixo em mim, enquanto segurava seu copo de curaçau blue. Eu é que não consegui ficar inteira na sua frente.

Nos conhecemos em um parque de diversões, desses bem grandes, com muitos brinquedos e atrações. Rodas-gigantes, montanhas-russas, carrosséis, mágicos, palhaços. Eu estava com algumas colegas da faculdade, marcamos para fazer um trabalho de Direito Processual Civil, uma chatice, preferimos ir brincar. Ele sozinho, com as mãos nos bolsos, passeando entre as máquinas, encantado com o que via ao mesmo tempo distante de tudo aquilo. Vez por outra, chutava o vento. Achei engraçado. Não tive como não reparar nele. Amor à primeira vista. Sinceramente, nem acredito que exista esse tipo de coisa! Mostrei às meninas aquela interessante figura desinteressante. “É bonitinho”. Disse uma delas, já me puxando para o trem-fantasma. Claro que eu não queria ir. Fui.
Fila, todos olhando para frente, menos eu. Inutilmente tentava encontrar o jovem com camisa azul caixão-de-anjo. Que mau gosto pra se vestir!
Fantasmas, monstros, vampiros, várias imagens assustadoras, que em nada me assustavam.
Sai do brinquedo novamente procurando, naquele momento não entendi por que tanta obstinação.
- Vamos ao labirinto de espelhos! – Gritou Madalena empolgada como criança. Ali todos deveriam ser infantis. Apenas eu preocupada em permanecer adulta.
Espelhos, reflexos, várias de mim. Nosso grupo se dividiu tentando se perder. Quando finalmente me perdi, encontrei Celestino. Sem dúvida o sorriso mais cândido e puro, um pouco de céu, que já vi. Ficamos juntos no labirinto, caçando a saída, sem querer sair.
Comemos pipoca e algodão-doce. Esqueci completamente das companheiras. Gentil, me levou em casa. Esperei ser beijada, mas, não houve beijo, tímido. Achei aquela atitude, ou falta dela, fascinante.
Dois dias depois, ligou. Convite para ir ao cinema. Fiz charme, disse que estava indisposta. Celestino, compreensivo, aceitou. Tive que retornar a ligação.
Cheguei antes dele, ansiosa. Nos encontramos em frente à sala, próximo aos cartazes. Eu de vestido longo e salto quinze, ele de jeans e camiseta polo azul-marinho, estava lindo! Assistimos Trois Couleurs: Bleu. Não foi escolha minha.
Depois da sessão fomos a uma boate. Dançamos, bebemos, conversamos. Soube tudo de sua vida: onde morava, Rua das Violetas; em que trabalhava, oceanógrafo; o time que torcia, Cruzeiro; que adora o Super-Homem. Naquela mesma noite começamos nosso namoro. Amor, tesão, festas, viagens, sempre nós...
Minhas mãos, trêmulas, batiam na mesa do restaurante, remexendo explicações para um ponto final tão brusco, bruto, seco. Na tentativa de encontrar respostas me deparo com mais perguntas: Por que me convidou para esse jantar? Por que dessa forma tão cinza? Sinto algo surgir dentro de mim. Mas, não é vontade de chorar. Olho pra aquele rosto revoltada. Ele pega minha mão, me entrega um anel de safira, seus lábios docemente cínicos me dizem:
- Eu estava brincando!
Em uma mistura de raiva e alívio, meus olhos rachados o encaram enquanto me levanto e grito:
- Odeio azul!

3 comentários:

  1. Fez bem... eu sempre fui do cordão azul, mas esse Celestino... Faz-me receber a rosa do cordão encarnado. PARABÉNS. Diverti-me.

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  2. Fez bem... eu sempre fui do cordão azul, mas esse Celestino... Faz-me receber a rosa do cordão encarnado. PARABÉNS. Diverti-me.

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  3. Fez bem... eu sempre fui do cordão azul, mas esse Celestino... Faz-me receber a rosa do cordão encarnado. PARABÉNS. Diverti-me.

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