O homem saiu de casa. É manhã de segunda-feira, não vai trabalhar, quer apenas andar. Logo na porta de casa se encontra com a moradora do lado que, regando algumas flores, cumprimenta o vizinho.
- Bom dia! Está fazendo uma bela manhã.
- É. – responde ele secamente.
Foi andando, pensativo, cabisbaixo, as únicas coisas que enxergava eram o chão e seus sapatos, que, aliás, precisavam de graxa.
Um pouco mais adiante cruzou com um amigo o qual não via há quase um ano
- E aí cara? Que prazer encontrar contigo! – falou o amigo abrindo os braços.
- O prazer é meu. – respondeu sem parar, ou mesmo levantar a cabeça.
O amigo ficou parado, com os braços ainda abertos, parecendo o Cristo Redentor, sem entende direito o que acabara de ocorrer.
O homem seguiu sua jornada solitária. Passou por um parquinho em que dezenas de crianças brincavam, corriam, gritavam. Ali próximo, várias mães, babás e alguns pais observavam os pequerruchos e suas peripécias. Uma menina de oito ou nove anos vem correndo olhando para trás, esbarra no homem e cai sentada no chão. Com os olhos cheios de medo e lágrimas a pequena diz:
- Desculpe senhor.
Indiferente à queda ou ao pedido de desculpas o andante não responde, parecia estar em estado de hipnose. Segue seu caminho, talvez sem ao menos saber para onde ir.
Após o parquinho, havia uma praça, com flores, grandes árvores, bancos de madeira e até um coreto no canteiro central, construído nos moldes da arquitetura do inicio do século XX. Lá se reúne uma turma de saudosistas senhores, que há algumas décadas, formaram uma banda musical, hoje em dia, todas as sextas-feiras, eles estão tocando na praça. Mas é segunda, o coreto está vazio.
Um pequeno grupo começa a se formar embaixo de uma árvore. Um palhaço grita: “Venham ver o maior espetáculo da terra.” O humorista faz truques de mágica, acrobacias, arranca aplausos e alguns trocados da plateia. Ao ver aquela figura melancólica que vai passando indiferente ao show, o comediante brinca:
- Senhoras e senhores, aquele ali também já foi palhaço, mas deixou de pintar a cara. Vejam bem a sua tromba de defunto, seus olhos de finado. Para que vocês não morram em vida é bom pintar a cara de vez em quando, rir da vida e dos viventes. E para que este palhaço não morra de fome é bom que aumentem o meu cachê.
Dito isto, uma chuva de moedas é jogada ao artista que continua seu trabalho. O homem nem se quer ouviu quando foi a deixa para o pedido de dinheiro.
Um pé, depois o outro, passo a passo, o homem vai andando. No seu horizonte não existem palhaços, amigos, conhecidos ou estranhos, apenas seus pensamentos. O que será que ele pensa? Mais adiante, quatro pessoas jogam dominó na praça. Ele vai passando quando alguém no jogo o vê.
- Ei! Levanta a cabeça. Ei, tudo em ordem? – grita um dos jogadores acenando com a mão.
- Presta atenção no jogo, é a sua vez. – fala outro jogador em tom de reprovação.
O homem não percebe o chamado, ou se percebeu, não deu importância. Prossegue, aparentemente sem muito objetivo. Pessoas passam, vão e vem, ele olha algumas, rostos desconhecidos ou não, não importa. “Bons dias”, “ois”, “olás”, nada faz com que o homem erga a cabeça.
Depois de uma boa andada, ele para, próximo a uma feira popular. Pessoas comprando, vendendo, gritando, rindo, sendo pessoas. Finalmente o homem levanta a cabeça, olha ao redor, se senta no meio-fio e percebe: está só.
- Bom dia! Está fazendo uma bela manhã.
- É. – responde ele secamente.
Foi andando, pensativo, cabisbaixo, as únicas coisas que enxergava eram o chão e seus sapatos, que, aliás, precisavam de graxa.
Um pouco mais adiante cruzou com um amigo o qual não via há quase um ano
- E aí cara? Que prazer encontrar contigo! – falou o amigo abrindo os braços.
- O prazer é meu. – respondeu sem parar, ou mesmo levantar a cabeça.
O amigo ficou parado, com os braços ainda abertos, parecendo o Cristo Redentor, sem entende direito o que acabara de ocorrer.
O homem seguiu sua jornada solitária. Passou por um parquinho em que dezenas de crianças brincavam, corriam, gritavam. Ali próximo, várias mães, babás e alguns pais observavam os pequerruchos e suas peripécias. Uma menina de oito ou nove anos vem correndo olhando para trás, esbarra no homem e cai sentada no chão. Com os olhos cheios de medo e lágrimas a pequena diz:
- Desculpe senhor.
Indiferente à queda ou ao pedido de desculpas o andante não responde, parecia estar em estado de hipnose. Segue seu caminho, talvez sem ao menos saber para onde ir.
Após o parquinho, havia uma praça, com flores, grandes árvores, bancos de madeira e até um coreto no canteiro central, construído nos moldes da arquitetura do inicio do século XX. Lá se reúne uma turma de saudosistas senhores, que há algumas décadas, formaram uma banda musical, hoje em dia, todas as sextas-feiras, eles estão tocando na praça. Mas é segunda, o coreto está vazio.
Um pequeno grupo começa a se formar embaixo de uma árvore. Um palhaço grita: “Venham ver o maior espetáculo da terra.” O humorista faz truques de mágica, acrobacias, arranca aplausos e alguns trocados da plateia. Ao ver aquela figura melancólica que vai passando indiferente ao show, o comediante brinca:
- Senhoras e senhores, aquele ali também já foi palhaço, mas deixou de pintar a cara. Vejam bem a sua tromba de defunto, seus olhos de finado. Para que vocês não morram em vida é bom pintar a cara de vez em quando, rir da vida e dos viventes. E para que este palhaço não morra de fome é bom que aumentem o meu cachê.
Dito isto, uma chuva de moedas é jogada ao artista que continua seu trabalho. O homem nem se quer ouviu quando foi a deixa para o pedido de dinheiro.
Um pé, depois o outro, passo a passo, o homem vai andando. No seu horizonte não existem palhaços, amigos, conhecidos ou estranhos, apenas seus pensamentos. O que será que ele pensa? Mais adiante, quatro pessoas jogam dominó na praça. Ele vai passando quando alguém no jogo o vê.
- Ei! Levanta a cabeça. Ei, tudo em ordem? – grita um dos jogadores acenando com a mão.
- Presta atenção no jogo, é a sua vez. – fala outro jogador em tom de reprovação.
O homem não percebe o chamado, ou se percebeu, não deu importância. Prossegue, aparentemente sem muito objetivo. Pessoas passam, vão e vem, ele olha algumas, rostos desconhecidos ou não, não importa. “Bons dias”, “ois”, “olás”, nada faz com que o homem erga a cabeça.
Depois de uma boa andada, ele para, próximo a uma feira popular. Pessoas comprando, vendendo, gritando, rindo, sendo pessoas. Finalmente o homem levanta a cabeça, olha ao redor, se senta no meio-fio e percebe: está só.
Júlio César Rolim
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