Suzana, a noiva, entra gigante na igreja, morena clara com perigosos
olhos cor de mel, alta, dona de grande beleza e elegância. Desfila como se
estivesse numa passarela. Todos a observam, algumas com olhos de inveja, outros
de desejo, há também olhares curiosos, mas, todos bem atentos. Entre um passo e
outro da nubente, as moças nas laterais da igreja cochicham que ela está linda,
como é bonito seu vestido, tentam descobrir quem fez seu penteado. Depois de
quatro anos, sete meses e dois dias de namoro e mais três meses e vinte e
quatro dias de noivado, casa-se com Alfredo que espera ansioso no altar.
O templo está bem ornamentado com flores brancas e vermelhas, sem os
costumeiros exageros destas ocasiões, com exceção do detalhe do pequeno buquê colocado
nas mãos de uma imagem de Nossa Senhora do Bom Parto. Não há um só banco vazio,
todos estão lotados, vieram muitos convidados, nem todos claro, porque sempre
existem aqueles que só vão à festa para comer e beber, às vezes se esquecem até
de desejar parabéns aos noivos, mas, tudo bem, em contrapartida à ausência deles
vieram os onipresentes penetras. A mãe da noiva, Dona Amélia, senhora enxuta,
viúva, o marido se enforcou ao descobrir o envolvimento da esposa com um pastor
evangélico que visitava a família na promessa de orações. Usa um belo vestido
pérola, sentada na primeira fileira de bancos, nitidamente alegre com o
casamento da filha, afinal, nos dias de hoje encontrar um homem decente para
ser companheiro é uma missão difícil, e Alfredo sempre foi um rapaz íntegro,
trabalhador e honesto, não é dos mais bonitos, mas isso é apenas um detalhe.
O celebrante é o Padre Antônio, um jovem sacerdote recentemente ordenado,
com aproximadamente 35 anos de idade, amigo de infância do noivo. Alfredo fez
questão que realizasse o matrimônio. Os dois eram colegas de brincadeiras quando
crianças e de grandes farras na juventude, adoravam sair, ir a festas e sempre
tinham muitas namoradas, até que Tony, como era chamado pelos amigos, resolveu
entrar para o seminário, foi um verdadeiro choque para o público feminino da
cidade, que uma parte usufruía do corpo atlético do jovem e outra tinha essa
vontade. Apesar de a juventude bem vivida ao lado de belas garotas, nunca houve
nem um boato que o Padre Antônio tivesse tido algum caso amoroso depois de ter
se ordenado, ou mesmo nos tempos de seminarista, sua vocação o fez suportar o
constante assédio das mulheres.
Sem a presença do amigo, Alfredo reduziu as aventuras. Anos depois,
conheceu Suzana em um barzinho da cidade, conversaram, marcaram outros
encontros, com o convívio acabaram se apaixonando, namorando e agora casando.
A morena percorre o tapete vermelho no corredor da igreja. Ela sorri,
parece uma criança indo a um parque de diversões. Durante a rápida caminhada
relembra momentos do seu romance, como a primeira vez em que transaram e o
rapaz ficou chateado porque a garota não era mais virgem, e quando mostrou os
pentelhos pintados de loiro e lhe disse que os tingiu para lhe fazer uma
surpresa, ele adorou. Neste momento, estão vermelhos.
Um dos convidados é Túlio, primo da noiva, ela sempre afirmou ser seu
confidente e por isso costuma se trancar horas a fio na companhia do moço.
Quando passa por perto do moço seus olhares se cruzam e uma cena vem à cabeça
dele. Os dois estão sozinhos na casa dos pais de Suzana, resolvem tomar uma
garrafa de vinho, a primeira puxa a segunda, na metade da terceira decidem
dançar, Túlio começa a passar as mãos pelas costas da prima que pede suspirando
para parar, tem namorado. Os toques passam para o pescoço, os carinhos são
retribuídos, as mãos “bobas” do sedutor descem até a bunda da companheira, em
resposta, a moça morde a orelha do sedutor, os dois se abraçam com força e se
beijam ardentemente. Acaricia os cabelos do primo enquanto ele sutilmente
começa a baixar as alças do vestido dela, com um movimento rápido levanta a
blusa do rapaz e arranha suas costas, unhas e sangue em harmonia. Após tirar o
vestido de sua prima-amante, Túlio a pega no colo e a leva para a cama, a mesma
em que o casal Alfredo e Suzana costumavam passar suas noites de amor, puxa a calcinha
dela com os dentes e beija cada centímetro do seu corpo, demorando-se
principalmente nos seus grandes seios, a cada beijo, um gemido, língua e mão se
alternam entre os peitos. Os dois transam loucamente por quase toda a noite.
Quando terminam, Túlio, sentado pelado e exibido sobre o criado mudo, acende um
cigarro e diz: “Você deveria pintar de loiro.”
Suzana continua sua caminhada em direção ao altar, Alfredo, de olhos
fixos e praiados, a espera, aqueles poucos metros pareceram quilômetros, mas,
finalmente a noiva chega ao seu objetivo, é recebida por uma mão estendida e
gelada.
Padre Antônio inicia a celebração do sacramento matrimonial, muito bem
presidida, a voz grossa do vigário chega a quase hipnotizar os presentes, dona
Amélia fica tão empolgada com o timbre vocal do sacerdote, não se controla,
morde os lábios e contrai as pernas.
O casamento chega ao ápice, o celebrante pergunta a Suzana se ela aceita
Alfredo como seu esposo jurando amá-lo e respeitá-lo até que a morte os separe.
A moça olha levemente para trás, vê Túlio, ele a encara como que se dissesse
telepaticamente: “Não se preocupe, vamos continuar.” Volta o olhar para o
padre, sorriso voluptuoso, responde: “Aceito”. Padre Antônio se dirige ao noivo,
pergunta se jura amar e respeitar até que a morte os separe. Alfredo fita o
amigo, de olhos afogados, diz ofegante “Não” e beija o padre.
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